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14/07/2022
Sindicato
Risco político afasta interessados por refinarias
O processo de venda de três refinarias da Petrobras não deverá ser competitivo, apurou o Valor. A petroleira recebe até amanhã manifestações de potenciais interessados nas unidades Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, e Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul. A iniciativa inclui ainda ativos logísticos integrados a essas instalações.
A pouco menos de três meses das eleições presidenciais, potenciais investidores não acreditam que o processo de venda seja concluído este ano. A Petrobras está sendo assessorada pelo Citi. Fontes da própria petroleira ouvidas pelo Valor também não veem o processo andando antes de outubro.
Com o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva à frente das intenções de voto, a preocupação é que a venda dos ativos poderá ser interrompida, caso ele ganhe as eleições. Lula já manifestou em seu programa de governo que é contra a privatização da Petrobras.
Mesmo em um cenário em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) seja reeleito, os potenciais compradores também não se sentem seguros, disse um empresário, sob condição de anonimato, que ainda avalia se vai fazer proposta por uma das unidades. “Todo esse movimento do presidente em relação à troca de comando na Petrobras e intervenção de preços deixam os investidores em alerta”, afirmou.
O Valor apurou que o grupo Ultra, dono da rede de postos Ipiranga, não pretende apresentar proposta. O conglomerado tinha avançado na compra da unidade Refap, do Rio Grande do Sul. No entanto, em outubro do ano passado, as duas partes anunciaram que as negociações não tinham ido adiante.
Para o Ultra, a compra de Refap seria estratégica para o grupo na área de óleo e gás. Fontes afirmaram que a Petrobras tentou renegociar um preço maior pela refinaria, acima da oferta apresentada pelo grupo originalmente.
O grupo Cosan ainda avalia se fará oferta. No ano passado, a gigante de infraestrutura fez uma proposta pela Repar, mas ficou abaixo das intenções de venda da petroleira.
O fundo soberano Mubadala, dono da unidade Mataripe (antiga Landulpho Alves), também não teria interesse de fazer uma oferta por uma das unidades do sul do país, segundo fontes. Procurado, o fundo não se manifestou.
A venda das refinarias faz parte do acordo assinado em 2019 entre a petroleira e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a alienação de oito unidades, com o objetivo de atrair outras empresas para o setor. Os ativos à venda correspondem a cerca de metade da capacidade de processamento da estatal.
Até o momento só foi concluída a venda da refinaria da Bahia A Petrobras já assinou contratos para as unidades SIX, no Paraná, e Reman, no Amazonas, mas as transações ainda não foram concluídas.
A venda da Rnest foi encerrada em agosto de 2021, também sem sucesso, depois que os interessados desistiram de apresentar propostas vinculantes. Com isso, a Petrobras optou por incluir no plano de negócios as obras de conclusão do segundo trem de refino do projeto, com investimentos previstos em US$ 1 bilhão. Segundo a empresa, a intenção é ampliar o interesse de potenciais compradores.
Segundo um especialista do setor de óleo e gás, a estatal demorou muito para levar adiante o processo de venda. Para ele, o Cade deveria ter feito maior pressão. “Agora, perdeu o ‘timing’. O fantasma da [intervenção] no preço ainda pesa.”
Essa fonte entende que esse processo de venda é desvantajoso para a concorrência, uma vez que as refinarias do São Paulo e Rio de Janeiro ficaram de fora do processo de desinvestimento da Petrobras. “Se é para ter concorrência, o Cade deveria incluir refinaria desses Estados. Mas a Petrobras não quer abrir mão do filé mignon.”
Procurada, a Petrobras reforçou o seu compromisso com a ampla transparência de seus projetos de desinvestimento e de gestão de seu portfólio e informou que as etapas subsequentes do projeto serão oportunamente divulgadas. Já a Cosan e o Ultra não quiseram comentar o assunto.